3. As taças dos campeões, o nosso vazio e o que pode lhes preencher
(Torcendo para que não seja bebida alcoólica)
Não é de hoje que tenho curiosidade em descobrir por que diabos muitos troféus são feitos em formato de canecos/taças, vide a “Coupe Des Clubs Champions Européens" ( a orelhuda da Champions League) e a Julius Rimet (“derretida na maior cara-de-pau”, como cantou a Caprichosos de Pilares ao falar de saudades1)
Apesar da curiosidade nunca parei para pesquisar sobre o assunto, mesmo assim, me guiando pelos dados levantados pelo Instituto Vozes da Minha Cabeça, dei meu veredito: é para lembrar aos campeões que a vitória precisa ser preenchida com algo mais, ela não basta em si. Ok, beleza, talvez seja só pra encher de champagne/vinho/cerveja, mas me permitam ter essa visão romântica do mundo ao menos dessa vez.
Matutando sobre quais significados podem/devem preencher uma vitória, ou, Caetaneando, ao me perguntar se existindo (ela, a vitória) a que será que se destina ? Eu (que até hoje não compreendi a Cajuína) só cheguei a conclusão de que, em alguma medida, a minha resposta a essa inquietação deve ser eco do Foucault2, falando lá no fundo da memória, que “Todas as pessoas que adquirem um diploma sabem que ele nada lhes serve, não tem conteúdo, é vazio.“. É que a minha mais recente vitória-vazia envolve exatamente a entrada em um mestrado, dai o link do diploma com as taças/canecos, que na minha cabeça (tão biluteteia ultimamente) faz um puta de um sentido.
A cereja do bolo dessa minha teoria veio ontem, no momento em que o Spotify ressuscitou, diretamente de um dos 9 círculos do inferno, a música “ O último bar” do Matanza 3, onde se ouve “ Bourbon tenho demais, mas que diferença faz se você não está aqui pra dividir ?!”. Tcharam, era a peça do quebra-cabeças que faltava. Jimmy London com um whisky nas mãos, uma espécie de troféu, convenhamos, percebera o cerne da coisa: a vitória serve para ser dividida.
Assim, ao invés de ceder que talvez a taça devesse ser preenchida com Bourbon, aprimorei a minha visão de jovem padawan: o troféu é em formato de taça/caneco para lembrar aos campeões que a vitória precisa ser preenchida de significado, ela não basta em si, e o preenchimento está no dividir com o outro.
Hoje cedo veio a confirmação da hipótese: ao encontrar minha mãe, feliz que o moleque que foi reprovado 2 vezes no ensino médio havia sido aprovado no mestrado de uma Universidade Federal, a minha taça, “vitória-vazia”, foi preenchida ( Foucault que se lasque pra lá). O olhar orgulhoso de uma mãe, em verdade, faz transbordar qualquer taça, caneco.. até um barril.
Com a teoria mais aprofundada, e refletindo com mais calma, me recordei do abraço apertado de uma amiga que estava comigo ao descobrir a aprovação, e do brinde que fizemos com uma lata de Coca-Cola; de outro amigo dizendo que eu estava me tornando Hokage (quem pegar a referência pegou, já citei Foucalt e Matanza e tenho uma reputação a zelar); de uma mesa de amigos bebendo whisky e me dando dicas sobre os bares próximos da faculdade.. e da sensação gostosa de cumprir o pedido feito pela mulher amada, no sentido de “acabar com eles” (os concorrentes) e me tornar um “futuro mestre Jedi” (como lhe apelidei tempos atrás, quando da sua aprovação no mestrado, antes que sequer sonhássemos em namorar).. é isso, só pode ser isso, a vitória se destina ao dividir com o outro - e talvez seja também essa a resposta para o início da Cajuína ( quem diria que seria Jimmy a desvendar o mistério de Caetano ? Vivi para testemunhar esse momento).
Enfim, ao que tudo indica, o outro, principalmente esse outro qualificado pelos laços de afeto que nos une, é que é capaz de preencher de significado o vazio da taça, o vazio de um diploma, o vazio existencial.. o vazio no banco do carona ao deixar a “recém ex” em casa.. “O paraíso são os outros”4, Valter Hugo Mãe já me ensinou faz tempo, eu só não estava aplicando a lição recebida.
Samba enredo de 1985, “ E por falar em saudade..” do G.R.E.S Caprichosos de Pilares.
Ando brincando com uma amiga sobre citações de Foucault, que são necessárias quase sempre e ao mesmo tempo se tornaram clichês, e cá estou eu caindo na minha própria crítica.
Eu achando que citar Foucault seria o ponto baixo desse texto.
Pelamordedeus leiam esse livro do VHM
Milhões de abraços apertados para você, meu amigo! Que orgulho e que futuro brilhante tens pela frente. O paraíso são os outros, e definitivamente, você é um dos meus. Parabéns pela conquista!